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TEMA LIVRE : Antonio de Souza
Notícias que cheiram mal
25/11/2007
O meio político de Mato Grosso foi pródigo, na semana que passou, em assuntos, por assim dizer, putrefatos. A começar pela chatice da interminável disputa por uma vaga no glorioso Tribunal de Contas do Estado – a tal “Corte” que surgiu graças à existência de um sistema que cria esdrúxulas situações, como a de delegar a apaniguados a tarefa de fiscalizar contas de seus padrinhos políticos.
Depois, o leitor acompanhou – certamente a contragosto – as ladainhas de deputados que não fazem outra coisa senão montar palanques eleitoreiros, na tentativa desesperada de chamar a atenção para pretensas candidaturas a prefeito em 2008. Pior, nem coram ante o ato extremamente irresponsável de usar o Plenário da Assembléia Legislativa para legislar em causa própria.
Mas, a notícia que não cheirou bem mesmo foi aquela que apareceu na mídia em forma de ameaça (aos bons princípios, à moralidade, enfim...): a volta do ex-deputado federal Lino Rossi (PP) à televisão em Cuiabá. A ameaça – quer dizer, a notícia – foi anunciada pelo próprio, no fim de semana passado, num programa de entrevistas da emissora (TV Rondon/Rede TV!), cujos proprietários – vamos reconhecer – tiveram a coragem de contratá-lo.
Na tentativa de fazer um retorno triunfal, o ex-deputado buscou se redimir dos pecados, insinuando “erros” ao praticar o assistencialismo etc. e tal. E, imagine, assumiu o compromisso de se mostrar, doravante, um “novo Lino Rossi”, com a cobrança sistemática de soluções para os problemas do sofrido povo às autoridades.
Curiosamente, a volta de Rossi foi saudada por alguns jornalistas e políticos, que se derramaram em elogios. Enquanto um afirmava que LR é um sujeito de muita personalidade e tem tudo para fazer sucesso de novo (?), outro insinuava que, na verdade, muita gente “tem medo” dele. De fato, o temor é da sociedade, que já conhece o ex-deputado, dos tempos em que ele era apresentador do programa policial “Cadeia Nele”, na TV Record, e usou a emissora para se revelar à opinião pública como um cidadão acima de qualquer suspeita, mas, ao ser conduzido à Câmara Federal, mostrou que não tinha compromisso com o interesse público. Visava apenas e tão-somente as suas próprias conveniências, os seus caprichos pessoais. Isso ficou provado!
O que os nobres políticos e jornalistas deveriam ter feito, em vez de desfiar um rosário de bajulação, era revelar a biografia política (ou folha corrida?) do ex-deputado. Todos se lembram que Rossi ganhou a condição de “elemento-chave” das atividades da Planam, a famosa empresa mato-grossense que originou a Máfia das Sanguessugas, que, por seu turno, ganhou licitações fraudadas, nadou de braçada em emendas parlamentares ao Orçamento da União e vendeu ambulâncias superfaturadas. No final das contas, o ex-parlamentar terminou acusado de lavagem de dinheiro, de corrupção, formação de quadrilha... O Ministério Público o acusa de ter embolsado uma dinheirama: R$ 3 milhões, de um montante de R$ 100 milhões que os seus colegas mafiosos surrupiaram dos cofres públicos, em cinco anos. Responde a processo e pode voltar para a cadeia.
O ex-deputado Lino Rossi, convenhamos, é corajoso (ou é daqueles que acham que o povo mato-grossense é idiota), na medida em que se dispõe a enfrentar o telespectador, mesmo sabendo que não tem moral nenhuma para cobrar nada de ninguém. Com que cara ele vai criticar, por exemplo, o político que desvia dinheiro público? Com que autoridade ele vai acusar o político que ludibria o eleitor na sua boa-fé e utiliza o mandato popular buscando o enriquecimento fácil?
Sem dúvida, em Mato Grosso acontece cada coisa que no Paraguai dá até prisão perpétua. Como as notícias da semana, esse programa de Lino Rossi já cheira mal...
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Antonio de Souza, o ¨Toninho Dragão¨ é jornalista em Cuiabá/MT
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