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Curto&Grosso O que ainda será manchete

TEMA LIVRE : Sérgio Rubens da Silva

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Números da violência
24/09/2008

Mesmo que contestado em parte pelas autoridades brasileiras, com o firme propósito de resguardar a imagem do País no exterior, o relatório elaborado pela Organização da Nações Unidas (ONU) sobre a violência, divulgado no início da semana, revelou um dado extremamente preocupante: a polícia é a maior responsável pelos mais de 48 mil homicídios que se cometem a cada ano no Brasil. É uma taxa de violência letal, que figura entre as mais altas conhecidas no mundo, atingindo a impressionante marca de cerca de 27 homicídios por 100 mil habitantes. Para se ter uma idéia da barbárie, países da Europa Ocidental registram médias de dois a três homicídios no mesmo universo populacional.

As mortes provocadas pela polícia brasileira também têm poucos precedentes internacionais, como mostra um recente trabalho organizado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Em um único ano, as operações consideradas legais realizadas pela polícia do Rio de Janeiro mataram mais de mil pessoas. São Paulo contribui, em média, com 300 mortes por ano. Não tenho os números de Mato Grosso, mas não é muito diferente. Se comparados as estatísticas de outros países, os números transformam-se em uma autêntica aberração. A soma de mortes anuais de todas as polícias dos Estados Unidos não chega a 400, na Argentina, 300; na Alemanha, menos de 10.

A matança no Brasil é justificada como sendo ¨autos de resistência¨. A maioria das vítimas tem em comum o fato de morar em favelas e periferias. São execuções cometidas por policiais em serviço, fora do serviço, integrantes de esquadrões da morte ou de milícias, assassinos de aluguel e as mortes de internos nas prisões.

Organismos internacionais também acusam o uso de força policial excessiva, estimulado por autoridades governamentais, que tem levado à morte de suspeitos de crimes, que deveriam ser apenas presos, e de pessoas inocentes atingidas nas proximidades dos locais de operação.Não podemos nos esquecer do episódio de Rondonópolis que era apenas treinamento, e se fosse uma operação real?

A quantificação da violência deixa mais do que clara a urgente necessidade de priorizar profundas mudanças nas instituições policiais brasileiras, com o aperfeiçoamento dos métodos utilizados até aqui e, sobretudo, com a valorização e qualificação dos profissionais que atuam nessas corporações. Sem contar com infra-estrutura adequada, com sistemas de formação deficientes e oferecendo salários incompatíveis com a realidade que a atividade requer, a polícia brasileira assemelha-se a uma facção em meio aos conflitos urbanos estabelecidos, onde mata se para não morrer. Não acredito que o atual governo, tanto federal como estadual esteja preocupado com isso, é latente o descaso do governo atual para com o sucateamento da valorosa Policia Civil do Mato Grosso, da qual tive o prazer de fazer parte com muito orgulho.

A sociedade brasileira não pode aceitar passiva a continuidade dessa barbárie, sem exigir providências concretas das autoridades constituídas. O momento é mais que oportuno, as eleições municipais estão aí, pode-se começar agora. As ações também deverão incluir uma maior atenção às áreas sociais para atendimento das populações residentes nas periferias, medidas para conter a guerra silenciosa que hoje está estabelecida na prática..


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