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Curto&Grosso O que ainda será manchete

TEMA LIVRE : Sérgio Rubens da Silva

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A imprensa que nós ¨NÃO¨ queremos!
27/10/2008

Impossível deixar de tocar no tema. Afinal, tanto quanto a própria tragédia em que redundou o seqüestro da jovem Eloá, em Santo André, a cobertura da mídia também virou notícia, pelo menos em seu próprio território.

Em escala crescente, o trabalho realizado pela imprensa em situações como essa - as mais recentes foram a morte da menina Isabella e a queda do avião da TAM no aeroporto de Congonhas - se transforma numa pirotecnia que acaba por desviar a atenção dos verdadeiros personagens e seus dramas para focar uma verdadeira luta campal pela conquista da atenção de espectadores e leitores.

O curioso é que, quando se analisa o papel da imprensa em tais situações, se percebe que quanto mais ele é criticado pelos seus próprios pares mais espetaculoso se torna a cada nova tragédia que acontece.

Essa crítica “interna” do jornalismo se dá mais na internet, em especial nos blogs e observatórios de mídia, o que é natural já que são raros os momentos de autocrítica dos meios de comunicação. Cabe aqui tratar do assunto a partir de um fato e de alguns textos escolhidos na blogsfera.

O fato: devido à força das imagens e da instantaneidade, que de resto são a sua razão de ser, a televisão carrega uma responsabilidade muito maior. Pouco abaixo vêm as emissoras de rádio, as quais tentam superar a falta de imagem com entradas intermitentes, depoimentos das mais variadas origens e uma narração carregada de emoção. Já ao jornalismo impresso – jornais e revistas –, além de atualizar suas informações através de sites na Internet, se encarregam de complementar a cobertura com detalhes, avaliações e artigos mais aprofundados e contextualizados.

Nada mais natural, portanto, que estejam na internet, nas rádios e nos meios impressos as maiores críticas à forma de agir da televisão que, por se expor mais, corre os maiores riscos.

Agora, vamos aos textos produzidos pelos especialistas e pesquisadores em suas críticas à cobertura da imprensa, em particular da televisão. Os principais erros apontados por eles, sem ordem de importância ou gravidade, foram os seguintes:

1) Não levar em conta que o seqüestrador e as reféns estavam acompanhando a cobertura, permitindo que ele se sentisse um astro e fosse prolongando as negociações ao máximo. Não esquecer que, nessa cobertura, foram entrevistados os mais variados tipos de especialistas, inclusive psicólogos e psicoterapeutas;

2) A utilização de celulares para entrevistar o seqüestrador, atrapalhando o trabalho do negociador oficial da Polícia e fazendo com que o criminoso mudasse de atitudes a cada momento. O maior exemplo disso foi a participação da jornalista da Rede TV, Sônia Abrão, que manteve uma conversa com o seqüestrador como se fossem pessoas íntimas;

3) Confundiu-se reality show ou novela barata com cobertura jornalística, confundiu-se sensacionalismo com jornalismo. As tevês fizeram a cobertura de olho nos pontos do Ibope e na grana dos anunciantes;

4) Houve mesmo quem dissesse que a televisão acabou incentivando e provocando o assassinato de Eloá. Para as tevês, o telespectador não é um indivíduo, mas um consumidor. A espetacularização do fato policial banaliza a informação.

E, para terminar, uma observação pessoal. Quando os apresentadores dos programas policiais da tevê afirmam que seu propósito é colaborar para acabar com os crimes ou, pelo menos, reduzir a criminalidade, estão sendo no mínimo cínicos. Caso conseguissem essa façanha teriam dado um tiro no pé: perderiam o próprio emprego.

...

*Sérgio Rubens, ex-subsecretário de Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de Mato Grosso


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