Há coisas que são dignas de fábulas. Mas nem os mais criativos contistas seriam capazes de ousar uma fantasia como a que acontece em Mato Grosso. Era uma vez um delegado de polícia federal que, por um trabalho brilhante num obscuro caso político, foi convidado para assumir a pasta da Segurança Pública. De fato, conhecia do riscado, ninguém negará. Todavia, até que não se altere a Constituição da República e do Estado de Mato Grosso, Secretário de Estado é um subordinado. Subordinado é um eufemismo ou uma catacrese, dependendo do gosto.

Após uma bela derrapada numa licitação milionária que, venhamos e convenhamos, deixou dinheiro pelo caminho, levou nosso herói ao centro do picadeiro. O empresário que vendeu por preço cheio, não se furtou a dizer a verdade: “fiz e faria, vendo como e por quanto eu quero”. O patrimônio público, no entanto, parece pensar o contrário. Resolveu remexer no caso somente após o escândalo estourar, como sempre. Até então, aqueles antigos contratados da empresa particular do Governador ainda eram Secretários de Estado. Duplamente subordinados.

Pois bem. Esse Secretário de Estado que era subordinado ao Governador que o nomeou, hoje sob suspeitas, e colega dos demais Secretários de Estado, focos de uma claudicante apuração, foi escalado para investigar o antigo patrão e os colegas de Executivo. Pergunta-se: haveria o mínimo de isenção, independência e sigilo numa investigação contra o próprio chefe e colegas? A que conclusão poderia chegar o Secretário de Estado?

De fato, em certas histórias reais a ficção não tem coragem de imitar. Porque para um expectador minimamente inteligente, um espetáculo, teatro ou circo não pode contar com fantasias inverossímeis. Deve haver o mínimo de realidade que a própria realidade mato-grossense não tem. Daí que já se imagina que o culpado não é (nem pode ser) gente na ativa do Governo ou ex-chefes. Sobra pra quem? Na ficção, sabemos que o mordomo leva a culpa. Na vida real, veremos. Era uma vez no Oeste.

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Eduardo Mahon é advogado em MT e Brasília/DF

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