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O Outro Lado Porque tudo tem dois, menos a esfera.

TEMA LIVRE : Pedro Pedrossian

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Aqui estou!
10/12/2010

Quarenta (40) anos depois da incumbência histórica que me foi confiada venho colher os frutos da revolução que fizemos e que teve como arma a EDUCAÇÃO.

O HOMEM foi nosso maior investimento.

Voltando no tempo, que tingiu nossas cabeças com sua névoa, relembro quando eu, engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, fui buscado para ser candidato a Governador deste Estado.

Era uma disputa tão desigual, que historicamente ficou conhecida como a campanha do TOSTÃO contra o MILHÃO. De um lado um partido poderoso e implacável concorrendo com um adversário municiado por gigantesca estrutura logística e milionária, enquanto nós, movidos apenas pelo sonho não passávamos – no conceito dos nossos adversários – de meros cumpridores de tabela.

Resumindo aquele momento histórico: Meu adversário era a lógica; e Eu a zebra.

Conto aqueles momentos em meu livro “O PESCADOR DE SONHOS” com a consciência de que fui um semeador.

Eufórico, eu e minha jovem e bela esposa Aparecida percorremos todo o Estado num pequeno avião, nos apresentando como opção política àqueles que almejavam um Novo Estado.

A Campanha foi feita na raça. Dormíamos nas casas dos companheiros, que chegavam a fazer coleta para abastecer nosso avião a fim de continuarmos nossa revoada de apresentação.

Do alto – entre uma cidade e outra – entrávamos em contato com a dura realidade do Estado. Não havia estradas, energia elétrica, saúde, educação, etc.

Tinha muito que fazer. Em relação aos demais Estados estávamos engatinhando.

Os adversários debochavam da nossa mensagem de mudanças e da pretensão de vencermos a disputa, apostando nas suas potencialidades e na conveniência gerada pelo continuísmo que impedia o Estado de crescer.

Nos movíamos alimentados pelo sonho de revolucionar este Estado.

Nossa mensagem era significativa, por isso virou a nossa moeda vitoriosa contra os milhões que alimentavam o imobilismo.

Isso ficou evidenciado na nossa SEGUNDA REVOADA. A semente de liberdade e de novos tempos, plantada em nossa primeira passagem, germinaram tão rapidamente que em nossa segunda revoada era possível sentir seu florescer na alegria daqueles que - como nós - sonhavam com um Estado desenvolvido, arremessado para fora daquela letargia à que estava condenado.

De volta pra casa, a idéia de governar o Estado já era prenúncio de possibilidade que se transformaria em realidade para assombro dos incrédulos adversários.

Voltando ao MATO GROSSO de 40 anos atrás deparamo-nos com a dura realidade: Não passávamos de meros EXPORTADORES das nossas matérias-primas, e com elas iam as nossas maiores inteligências em busca da formação universitária, distanciando-se das famílias e perdendo seus contatos com os amigos e desta maravilhosa cultura mato-grossense.

Essa EXPORTAÇÃO empobrecia o velho Mato Grosso, pela ausência de pessoas qualificadas para fazer o Estado arrancar rumo aos novos tempos que o Brasil começava viver.

Lembro-me da primeira ata de reunião de trabalho, já como Governador, onde mandei priorizar o ENSINO, porque dele nasceriam os homens que seriam os responsáveis pelas profundas transformações em todos os setores da vida mato-grossense.

Diante dessa realidade criamos o Instituto de Ciências e Letras que, junto com a Faculdade Federal de Direito, formaram o embrião da Universidade Federal do Mato Grosso em 10/12/1970, da qual o amigo Gabriel Novis Neves foi o primeiro Reitor, seguido após por outros grandes reitores que perpetuaram a tarefa de transformar este povo pela educação universitária da mais alta qualidade, pavimentando-lhes o caminho para a construção de um futuro hoje não mais ignorado.

Revolucionamos o Estado pela Educação; Preparamos os multiplicadores das idéias que balizaram os novos tempos; Deixamos de EXPORTAR para absorver o que produzíamos, de matérias-primas à executivos e técnicos do mais alto nível, indispensáveis em todo e qualquer seguimento social e empresarial.

Essa foi a semente que germinou esta UNIVERSIDADE. Ela nasceu sob o signo da criação do NOVO HOMEM sobre o qual estaria depositada a responsabilidade de multiplicar o saber por esses emissários da aurora dos novos tempos que todos sonhávamos.

AMIGOS,

Fiz essa introdução para lhes dizer que, decorridos 40 anos de nosso Governo que arrebentou os currais eleitorais que até então persistiam, que a maior arma de qualquer revolução não pode ser outra, senão a da EDUCAÇÃO.

A UNIVERSIDADE FEDERAL foi o marco zero e DECISIVO para as mudanças que nunca mais deixaram de acontecer, até colocar este gigante em pés de igualdades em relação a todos os demais Estados brasileiros.

Gabriel, você foi o jardineiro da nossa sementinha e depois sucedido por outros Reitores entusiasmados e compromissados com a qualidade de ensino que fizeram desta Universidade uma referência nacional aos seus formandos.

Falando neles, recordo com saudades a formatura da primeira turma, numa linda festa ao ar livre, permeada de emoções daqueles a quem as esperanças de transformações foram ombreadas.

A revolução que fizemos objetivava em seu ventre a construção do homem do futuro que não existiria se não estivesse devidamente educado para a nobre missão.

A nossa fé ignorou o impossível, e eis aqui a resposta às incredulidades que se acercaram sobre nossa proposta.

Retorno para receber essa láurea que enobrecerá ainda mais meu currículo, e para rever os amigos com os quais convivi e que participaram ativamente daquele nosso governo que dividiu historicamente Mato Grosso em ANTES e DEPOIS.

Fazendo um balanço sobre esses 40 anos que se passaram em nossas vidas, posso lhes garantir que, entre nossas grandes obras como as estradas que rasgaram este Estado; a energia que iluminou nossas cidades e outras grandes realizações, nenhuma foi tão importante, tão significativa e tão profunda quanto esta UNIVERSIDADE.

Valeu à pena!

Se necessário fosse, faria tudo novamente.

Reconheço que sem o sonho e os companheiros motivados, tudo isso seria uma tarefa impossível. A Universidade foi o agente transformador das idéias criando uma plêiade de homens preparados, que transformaram este Estado num celeiro de produtos e homens.

Confesso que ao lançar meu olhar para o passado, sinto no fundo da minha alma o dever cumprido.

Afirmo com todas as letras, que hoje é o dia mais feliz da minha vida por ver reconhecido minha luta pela transformação de um Estado ao optar pela formação humana. Não poderia deixar de agradecer ao professor Fernando Tadeu de Miranda Borges e seus pares, que me outorgaram a honra de receber o título de “Doutor Honoris Causa” que resplandecerá em meu currículo para todo o sempre.

No meu livro “O PESCADOR DE SONHOS” escrevi a história da minha trajetória política. Confesso que sou um homem dividido entre QUATRO AMORES: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minha Família e Meus Amigos.

Um abraço Fraternal a todos,

PEDRO PEDROSSIAN

Ex- Governador de Mato Grosso

Cidade Universitária de Cuiabá, 10 de dezembro de 2010


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