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TEMA LIVRE : Wagner Malheiros
Fernando Pessoa, Drummond e Comunistas
06/05/2011
Os imensos campos do nosso pantanal me fazem lembrar Drummond.
“Mundo, vasto mundo...”
Não gostava de suas poesias quando menino, quando moço e na querência de ser adulto. Certas coisas somente com a idade e maturidade aprendemos a apreciar.
A beleza está na simplicidade. Quem gosta de escrever difícil são os comunistas, que torcem e retorcem as palavras tentando dar entendimento a barbaridades. Os melhores livros russos foram proibidos e seus autores perseguidos pelos comunistas. Quem os lia entendia o que lá acontecia e isso eles não aceitavam. Das prisões da Sibéria saíram grandes livros.
Citando Fernando Pessoa: “Se o que há de lixo moral e mental em todos os cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade a da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós.”
Eu não chego a dizer tanto, ainda mais que tenho uns pobres amigos que se dizem comunistas, principalmente após passarem à curva temerária da quinta ou sexta dose de um bom scoth.
Tecem glórias a grandes feitos dos países comunistas, tais como Cuba, Albânia e Coréia do Norte. Portentos da liberdade mundial e faróis da humanidade - dizem com os olhos já embaçados.
Até dizem que em Cuba se tem a melhor medicina do mundo. Quando argumento que dos mais de mil alunos de lá que fizeram a prova para validar seu diploma no Brasil, somente uns três passaram, argumentam que são reprovados por perseguição dos famigerados capitalistas e do sistema atual “que vai contra as coisas certas e blá-blá-blá”.
Mais por diversão do que por qualquer coisa, gosto dos argumentos sem nenhuma razoabilidade destes.
Aqui na terrinha também tivemos bons comunistas. Meu pai dizia que a sede deles ficava no Chopão. Era um sábio. Quando eu era menino achei bonito o comunismo. O meu pai ria e dizia - ”O deixa crescer.”
Pois é, os vastos campos do Pantanal.
“Sê tolerante, porque não tens certeza de nada”.
Fernando Pessoa disse que este era um novo mandamento de Deus, recebido diretamente por Ele.
Eu não tenho certeza de nada, ou apenas isso. Se for realmente Deus quem falou com o poeta, eu não posso afirmar. Pessoa garantiu que sim e revelou outros mandamentos novos. Pelo que sei de sua história ele gostava de um bom scoth e não era comunista. Ainda bem, pois assim a conversa deveria ser muita boa, ao menos antes da fase melancólica a sua morte.
Vejo a intolerância como uma resposta exagerada dos ignóbeis. E como eles gostam de se reunir e são tão cheio de certezas!
Um desses amigos comunistas, depois da quinta ou sexta dose de scoth, óbvio, tentou me demonstrar o porquê da Itália não ser um país democrata, justificando a presença do tal Battisti entre nós, e a razoabilidade de se manterem presos de consciência em Cuba.
Assim como no meu amigo, vejo graça também no Suplicy defendendo os mesmos motivos. Um senador andando de cueca vermelha por cima das calças não se vê todo dia.
São divertidos os comunistas. Só não lhes dêem o poder que a comédia poderá se transformar em tragédia.
Um outro escritor ou poeta disse que o comunismo era um tipo de alegoria à espera de um idiota que acreditasse nela. O duro que idiota existe aos montes.
Eu não discuto, fico sempre aguardando que o tempo esclareça os colegas. Alguns não têm jeito ou forma de correção. Creio ser mal do fígado ou então da teimosia enraizada.
Fico a imaginar como é chegar a um ponto da vida e constatar que grande parte daquilo em que se acreditava era uma grande mentira. É difícil. Quando o muro na Alemanha caiu lembro de um colega em surto. Ele dizia que os ocidentais iriam invadir a parte oriental. Coisa de doido, mas ele é gente boa. Se bem que num governo socialista não duvido que me mande ao paredão.
Para este meu amigo, uma poesia do Drumond:
“Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas
e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.“
Então... Parece que o frio está indo embora. Se esquentar eu irei pescar.
E pensar nos vastos campos de nosso pantanal.
"Mundo, vasto mundo...”.
Tem espaço para tudo.
...
*Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT
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