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De Última! Só lendo para acreditar

TEMA LIVRE : Wagner Malheiros

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Uma pequena história...
11/06/2011

Da ponte se via o rio correndo abaixo.

Fazia calor - era época de pouca chuva e que quando surgia vinha miúda e envergonhada.

Manoel sondava as águas que rolavam lentas e quietas, ora e outra perturbada por algum peixe que vinha a superfície. Debruçado no peitoril da ponte via com olhos embaçados o rio se estreitando longe, onde parecia morrer numa curva distante junto a um céu de nuvens mirradas.

Tossiu e o peito doeu. Não era para sair de casa, bem o disse a mulher e o médico, mas uma agonia doida crescia dentro da cabeça e parecia que ia se acabar em tristeza.

Aprumou o corpo e no passo quieto tomou rumo. Lá embaixo, na sua casa beirando o rio sabia que o esperavam. Ali da ponte só se via o velho telhado, acinzentado que lembrava as escamas de peixe.

A mulher o viu chegando e nada disse. Seus olhos cruzaram e no silêncio se entenderam. Achegando embaixo da velha mangueira abandonou o corpo na cadeira de fio.

Tomou fôlego e olhou novamente para o rio, ali junto a sua pequena casa. Queria ajuntar coragem e ir com a mulher e o guri para longe. Bobagem pensou – a tristeza iria acompanhar.

Fechou os olhos e mais uma vez lembrou.

...

Estava com os dois guris na margem do rio. Enquanto aprumava o material da pescaria, os dois pequenos brincavam na canoa.

Não sabe o porquê do ocorrido, mas na lembrança revia o mais novo caindo na água. O maior indo atrás e os dois se agarrando e afundando a primeira vez.

O mundo sumiu. Manoel correu e mergulhou. Abraçou os meninos e buscou ar. Afundou e sentiu a correnteza o levar.

Pisou o fundo e deu impulso. Os meninos se debatiam e apertou-os mais forte. Não podia nadar. Conseguiu colocar a cabeça fora da água e respirou. Sentiu os pequenos braços agarrados em sua roupa.

Viu o céu azul e afundou...

Chegou ao fundo e prendendo os pés na lama tentou andar. Sentiu que os passos iam à subida e com peito queimando buscou força.

Dos pequenos braços que o amarravam sentiu que esmoreciam. Um menino se soltou. Segurou num braço que foi escorregando e se perdeu. A iminência da morte juntou-se a um desespero ainda maior.

O mundo ficou vermelho, o peito explodia...

Num impulso saiu à margem. Pegou o menino mais velho e o empurrou para o barranco... Vivia.

Tentou voltar, mas um acesso brutal de tosse o fez expelir a lama que tinha aspirado. O mundo escureceu e debruçado com a metade do corpo no barranco desabou.

...

Afastando a lembrança levantou da cadeira.

A mulher o interrogou com o olhar...

Ele forçou um sorriso e aninhou a tristeza nos seus braços.

O guri devia estar chegando do colégio.

A vida continuava...

Tinha uma família para cuidar.

...

Wagner Malheiros é médico pneumologista em Cuiabá/MT



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