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TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande

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No escurinho da coxia - 1
17/08/2011

O pátio fervia de moleques suados, meio pirados pelo sol estúpido, em brincadeiras que só faziam aumentar as ameaças de insolação.

Cerca de uma dúzia de meninos resvalando pela debilidade mental aguda se engalfinhava num jogo semelhante ao futebol, num campo de terra batida e pedregulhos, com dois retângulos de madeira podre em cada extremidade servindo de gol, sem redes. Todos estavam sem camisa e suavam profusamente atrás de uma bola estropiada e imunda que insistia em fazer pouco do esforço de cada um daqueles alegres mentecaptos.

Depois do sinal para a volta às aulas, as salas ficariam empesteadas pelo intenso bodum que exalaria de cada um dos jogadores, dos assistentes e de todo aquele que houvesse ficado exposto ao calor infernal que tornava o pátio do Colégio numa antessala do inferno, malgrado as imagens de santos e mártires que se espalhavam pelos corredores laterais.

Padre Rolinha, no entanto, não estava presente à peleja, como era costume, com sua proverbial pose de garnizé depenado a frio. Dimundinho, sacana como sempre, tinha notado a ausência da impoluta figura e começara a dar tratos aos seus sempre maus pensamentos. Deu uma olhada num jogo de bolitas, parou pra atrapalhar com suas piadas maldosas um pingue-pongue concorrido e se dirigiu à entrada do anfiteatro. Havia rumores pipocando nas salas do Colégio e ele tinha suas desconfianças.

O Colégio, como os mais experientes sabiam, era dividido em castas de preferidos e de enjeitados. Como a Ordem se arvorasse a caridosa e altruísta, recebia alguns rapazes das classes menos favorecidas em seu luxuoso educandário. Eles se misturavam aos filhos das famílias abastadas nas salas de aula e prestavam serviços de faxineiros, lavadores de latrinas, meninos de recado, carregadores e toda sorte de tarefa braçal que a Ordem resolvesse impor pela sua benemerência. Dentro das salas eram tratados como escória pelos colegas e se vingavam espancando, volta e meia, alguns dos meninos mais atrevidos e idiotas. Perdiam a regalia, mas eram, de imediato, substituídos por outros de uma extensa lista de espera.

Dimundinho não pertencia à casta dos bem-nascidos nem à ralé que recebia os favores da Ordem. Filho de um ex-aluno de família tradicional da cidade, porém sem fortuna, tinha os estudos pagos por um padrinho rico que as más-línguas diziam ser seu verdadeiro pai. Estudar, de qualquer maneira, não era o que considerava uma diversão interessante. Só fazia o trivial pra ir passando de ano e não ser aporrinhado pelo tal padrinho. Ia levando na manha.

O dom que iria conduzir o nosso herói à sua profissão na idade adulta, entretanto, já estava presente nas suas observações e intuições. Edmundo Lima era um sabujo para farejar pistas de malfeitos e tramoias, rastros de atividades escusas e de desvios de conduta, principalmente naquele sacrossanto ambiente onde um emaranhado de dogmas e regras morais e comportamentais era bombardeado diuturnamente nas orelhas da molecada. Como a teoria costuma divergir quase sempre da prática, estava disposto a colocar uma de suas suspeitas à prova. A hora era essa, estava indo à luta.


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