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Curto&Grosso O que ainda será manchete

TEMA LIVRE : Antonio Copriva

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Circunstância do Malassombro
24/08/2011

Rajadas de vento cortam as sombras, esfacelam as luzes que se alevantam detrás da casa que parece uma visagem no meio da garoa. Logo o chuvisco arredio se transforma numa cascata de bagas grossas, ensopando o ar e enchendo o silêncio de um crepitar agudo e metálico.

O céu arde em flatulência viscosa saturando a lagoa de pequenas granadas brilhantes, lençol encapelado de arames vivos saltando tal e qual serpentes toscas fugindo dos abismos do esquecimento secular. Olhares bovinos se arrastam pelas macegas e acompanham uma embarcação solitária que se arrisca contra a artilharia cerrada desse veranico assombrado.

O Malassombro todo se esconde debaixo do manto da bruma gélida.

Juliana tinha saído no bote, bem cedo. Remava no remanso indo pro lado de cima, saindo do Malassombro pra pegar o pessoal ainda desarrumado. Pensava fazer uma pequena viagem sem tropeços, trazendo o que precisava pra comilança dos convivas. A bebedeira ficava por conta do Marcola, vindo de motor direto da cidade, barco cheio de gente e de mantimentos, além das beberagens.

Sisqueceram de combinar com o tempo.

Banzeiro não é coisa com que se brinque. É nominho manso, coisa de menino, não se leva a sério até acontecer. Um coice de seda, uma alisada de espinho, vira no avesso sem arranhar a pele, assombra pela calma e pela determinação. É e já foi.

Miguelinho pensou ter ouvido um gemido, um chamado, um estalo ou algo parecido. A cortina fechada da chuva não deixava a vista distinguir nada. Sombras.
Uma criança abriu o berreiro dentro do quiosque sobre o lençol d´água, raios de um sol atrevido perfuraram a cobertura de palha e a prata líquida fuzilou os olhares e vislumbrou um horizonte azul de tudo.

O Malassombro surgia melado de ouro do meio de uma delirante tempestade que não deixava pegadas. Gente vinha de todos os lados, entrava pelo trapiche e um remo vadio surgia debaixo da passagem estreita. Quede Ju, quede, Ju, dizia apreensiva menina Dorinha. Água era só calma, tudo liso e reto, nada podia indicar que tinha tido uma guerra do tempo. Banzeiro quietado, cada olho com medo buscava sinais que trouxessem sossego.

Na marola macia começam a brotar estranhezas de dentro das águas. Saquinhos de farinha, pacotes de arroz, latas de óleo, um brinco de concha, colar de capim dourado, um lenço, uma colher de pau, um pé de sandália.

Teve festa nesse dia, não.

...

*Antonio Copriva, ex-publicitário, ex-marqueteiro, ex-sociólogo, ex-pai-herói, escriba errante sem lenço nem documento, atualmente se equilibra perto do paralelo 11.


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