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TEMA LIVRE : Roberto Boaventura da Silva Sá
Consulta eleitoral
02/03/2012
Terminou dia 27 o prazo para inscrição das chapas que concorrerão à Reitoria da UFMT. Além da tentativa à reeleição por parte da atual administração, duas chapas se inscreveram. De minha parte, recusei convites de três colegas (dois da área médica e um da Química) para também entrar na disputa.
Mas por que recusei os honrados convites? O principal dos motivos é que não consigo mais enxergar reitores nas federais. A perda da Autonomia Universitária – Art. 207 da CF/88 – vem transformando reitores em meros gestores de um partido político: o PT. Enquanto as universidades estiverem reféns de partidos não há espaço para candidatos autônomos; e a saída desse beco só se dará pela consciência das bases das universidades, não pelas cúpulas.
Leitores distantes do cotidiano das universidades indagariam: como um reitor pode ser refém de partido político se há processo eletivo?
Resposta: em atos concretos do dia-a-dia. Depois de eleito, antes de tudo, o reitor tem de ser confirmado pelo governo por meio de lista tríplice. Uma vez confirmado, passa a seguir as cartilhas do MEC, Ministério do Planejamento e Orçamento, Capes, Cnpq etc. A noção de Estado ficou atropelada pela ingerência partidária.
A atual gestão da UFMT, por exemplo, sintonizada com o PT, tem realizado os interesses governamentais o tempo todo. Para exemplificar, cito dois fatos: 1º) a adesão ao Reuni, que é um programa de expansão universitária socialmente irresponsável, além de contribuir para o adoecimento do quadro docente; 2º) a adesão ao Enem; ou seja, a esse tipo de exame no mínimo inconfiável, até agora mergulhado em fraudes.
Nesse caso específico, que se tornou mais público do que a adesão ao Reuni, para prestar contas aos interesses do MEC, a atual administração, num dos gestos mais autoritários vistos na UFMT, aprovou o referido ato fora das instalações da Instituição. Um Conselho Superior foi deslocado para a sede da OAB/MT. Eu não me prestaria a isso em hipótese alguma; logo, a Instituição poderia ser punida financeiramente.
Como se sabe, o governo petista sabe muito bem praticar barganhas. Não é sem motivo que anda grudado como o PMDB, expert nesse tipo de fazer política pouco nobre, para a qual as universidades declinaram.
Além disso, há outro problema: a falta da crítica constante, mesmo e principalmente por parte daqueles colegas que vislumbram esse espaço de poder. Dos docentes que se inscreveram como opositores, ainda que valiosos academicamente e valorosos no plano individual, não identifico em nenhum deles a possibilidade de uma postura mais crítica, mais autônoma.
De certa forma, salvo engano, a tendência será de adesão aos projetos governistas. Logo, eventual permuta de gestores poderá não ultrapassar o valor de um mero revezamento interno de grupos políticos.
Salvo falha de memória, não me recordo de nenhum colega que pleiteia o cargo de reitor expor-se pública e de forma constante contra a ingerência petista nas universidades. E isso é central neste momento. Esse silêncio pode estar revelando uma conivência com a situação.
Assim, por ora, preferi permanecer livre para continuar pautando a crítica. O dia em que eu olhar para os lados e vir um contingente significativo de colegas lutando de fato pela vigência da Autonomia Universitária, essencial para a vida da Universidade, aí revejo minha postura.
Por fim, espero que, superando trágicas experiências passadas, o percurso desta eleição/consulta transcorra sem violências; só isso já será uma vitória para a UFMT.
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*Roberto Boaventura da Silva Sá é doutor em Jornalismo/USP e professor de Literatura/UFMT
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