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O Outro Lado Porque tudo tem dois, menos a esfera.

TEMA LIVRE : Marcelo Alonso Lemes

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Homenagem justa, advertência necessária
28/01/2005

No dia 27 de Janeiro de 2005 foram realizadas cerimônias para lembrar os 60 anos de libertação dos prisioneiros judeus do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, por tropas do Exército Vermelho (ex-URSS).

Estima-se que, juntamente com Sobibor, Treblinka e outros, aproximadamente seis milhões de judeus de toda a Europa tenham perecido nesses infames campos de concentração.

A data deve ser lembrada com toda a razão, pois é impossível que possamos admitir que tal tragédia, provocada por um regime totalitário e racista como o Nacional – socialista alemão (nazista) se repita na face da Terra, quaisquer que sejam os grupos humanos envolvidos.

A Alemanha procura purgar sua culpa até hoje, tornando obrigatório o ensino das atrocidades nazistas nas escolas alemãs, a fim de que as novas gerações saibam das insanidades cometidas no passado em nome de uma crença na pureza de uma determinada raça humana, no caso a ariana.

A data foi lembrada de várias formas, com maior ênfase em Israel, na Alemanha e na Polônia.

Vários líderes judaicos lembraram em seus discursos do sacrifício a que o povo judeu foi submetido nessa trágica página da História da Humanidade, inclusive da omissão de várias instituições, como a Igreja Católica (o que resultou em um livro polêmico – “Pio XII, o Papa de Hitler”), da conivência de Stalin, então líder da URSS, com o massacre do Gueto judeu de Varsóvia, em 1944, com a ausência de bombardeios que pudessem interromper o fluxo de trens para os campos de concentração por parte dos aliados durante a guerra, enfim, críticas feitas por um povo que viveu uma situação aterradora, indescritível, retratada em filmes como “A lista de Schindler” e “O Pianista”, e em livros como “Mila 18”, de Leon Uris e “O diário de Anne Frank”.

Não me lembro, ao longo de minha vida escolar, estudando em escolas públicas como a Escola Modelo Barão de Melgaço, o Liceu Cuiabano e a Escola Técnica Federal de Mato Grosso, em escolas particulares como o Colégio São Gonçalo e em instituição de ensino superior como a Universidade Federal de Mato Grosso, de um único professor que, de alguma forma, nos tenha incentivado ao antisemitismo.

Nunca ouvi de meus professores quaisquer citações preconceituosas contra o povo judeu.

Agora vem o Sr. Ariel Sharon, durante seu discurso em homenagem aos mortos em Auschwitz no Knesset, o Parlamento Judeu, e tece um corolário de críticas aos países aliados como se todos tivessem sido omissos durante a Segunda Guerra com a questão judaica, como se simples fosse para os envolvidos na guerra organizar uma operação de libertação dos judeus nos campos de concentração, para no final encerrar com a seguinte pérola, de acordo com o que ouvi na cobertura televisiva:

“Nós, o povo judeu, já aprendemos que não podemos confiar nos outros, somente em nós mesmos”.

Ora, é graças à liderança de um imbecil como esse que o anti-semitismo tende a ressurgir em várias partes do mundo. É inegável que o regime nazista organizou uma estrutura antes impensável na História da Humanidade, a indústria do genocídio. Os campos de concentração tinham uma lógica operacional industrial: trens, alojamentos, elementos identificados com ferro em brasa nos braços, separação de homens, mulheres, velhos e crianças, voltados para o extermínio sistemático de milhões de seres humanos, algo nunca antes visto.

Mas agora faço a seguinte indagação: Será que o povo judeu é único que já foi perseguido ou exterminado de forma tão intensa ou cruel ao longo da História?

Será que se buscarmos contabilizar a quantidade de ameríndios mortos por portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, só para citar alguns, não chegaremos a um número também elevadíssimo?

E o que dizer de nossos irmãos africanos, massacrados durante o neocolonialismo europeu no século XIX e trazidos como escravos para o Brasil?

Será que não é aviltante obter lucro oferecendo outro ser humano como mercadoria?

E os asiáticos, chineses, vietnamitas, indianos, mortos durante as Guerras do Ópio, do Vietnam e a ocupação britânica na Índia?

Será que todos esses grupos humanos são menos dignos de uma homenagem?

Será que, se o que aconteceu com os judeus deve ser lembrado, o que aconteceu com os outros povos deve ser esquecido?

Olhem as mazelas que hoje se abatem sobre os países subdesenvolvidos, será que elas não são resultantes de um passado nefasto de exploração por parte de outros povos, incluindo aí comerciantes e banqueiros judeus nascidos na Europa?

Nosso país foi um dos que apoiaram a criação do Estado de Israel na Palestina, sob liderança do Sr. Osvaldo Aranha, mas de acordo com a resolução da ONU aprovada em 1947 um Estado Árabe Palestino também deveria ter sido criado. Onde está esse Estado?

Será que a política que atualmente o Estado Judeu mantêm em relação aos palestinos não é merecedora de críticas?

E o que dizer do vergonhoso muro que está sendo erguido na Cisjordânia?

Procuremos olhar para o Brasil: neste país, os negros são muito mais discriminados que os judeus ou não?

O Brasil sempre procurou se pautar, apesar das enormes desigualdades internas, como um país que jamais ofereceu qualquer tipo de obstáculo, salvo períodos como o Estado Novo, para a entrada de outros povos em nosso território.

Aqui existem descendentes de italianos, portugueses, sírio-libaneses, alemães, japoneses, espanhóis, eslavos e JUDEUS vivendo sem nenhum tipo de conflito étnico. Muitos grupos humanos já passaram ou ainda passam por situações de perseguição ou discriminação.

Isso não é uma exclusividade dos judeus, embora eles sejam extremamente bem organizados para manter o assunto Holocausto sempre presente, provavelmente por ter ocorrido num passado ainda recente e pelo extraordinário poder financeiro que a comunidade judaica possui no mundo todo e suas relações com a mídia.

É por isso que defendo a celebração de homenagens aos judeus mortos nos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial, mas sou radicalmente contra qualquer tipo de abordagem do episódio como se aquele povo fosse o único na História da Humanidade que tivesse sido vítima de um episódio tão brutal e violento.


...

Marcelo Alonso Lemes, Professor de Geografia.

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