capa | atento olhar | busca | de última! | dia-a-dia | entrevista | falooouu
guia oficial do puxa-saco | hoje na história | loterias | mamãe, óia eu aqui | mt cards
poemas & sonetos | releitura | sabor da terra | sbornianews | vi@ email
 
Cuiabá MT, 24/11/2024
comTEXTO | críticas construtivas | curto & grosso | o outro lado da notícia | tá ligado? | tema livre 30.947.775 pageviews  

Falooouuu... Frases e textos para ler, reler, treler e guardar

TEMA LIVRE : Xico Graziano

Outras colunas do Tema Livre

Nortão de Mato Grosso
01/04/2014

Município situado a 400 km ao norte de Cuiabá, Sorriso não carrega apenas a simpatia do curioso nome.

Seu território lidera a produção de soja no Brasil e seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é campeão estadual, atingindo 0,824.

Quer dizer, a elevada produção agropecuária garante qualidade de vida. Naquelas paradas inexiste passado, brilha o futuro.

O chamado Nortão de Mato Grosso caracteriza um polo de desenvolvimento, formado por vários municípios, todos muito recentes, estabelecidos ao longo da BR-163, rodovia que liga Cuiabá a Belém, no Pará.

Destacam-se Lucas do Rio Verde, Sorriso, Alta Floresta e Sinop, esta a capital regional, centro político onde pulsa o progresso limpo do interior brasileiro. Vale conhecer.

O nome, mais uma vez, chama a atenção. Sinop é um acrônimo advindo da Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa responsável pela abertura inicial daquelas longínquas terras.

Seu então proprietário, Ênio Pipino, legendário colonizador, adquiriu a Gleba Celeste, com 645 mil hectares, destinando parte dela às famílias de pioneiros que, na época, demoravam sete dias para vencer a distância do Paraná até as margens do Rio Teles Pires, criando um fluxo migratório cujo auge ocorreu em 1975.

Quatro anos depois, o povoado de Sinop seria elevado à categoria de município. Hoje abriga 130 mil habitantes.

Nessa história se compreende a origem dos agricultores situados no Nortão de Mato Grosso.

Foram inicialmente os paranaenses, gaúchos e catarinenses que ficaram atraídos por aqueles solos planos ou levemente ondulados, ainda cobertos com mata virgem. Vieram abrir fronteiras e encontraram um exuberante ecossistema cheio de segredos.

Por ali se dá a transição entre o bioma do Cerrado e a Floresta Amazônica.

Quanto mais ao sul, próximo de Cuiabá, mais se destaca a vegetação baixa e retorcida do Cerrado na paisagem original; quanto mais se caminha para o norte, rumo ao Pará, mais se impõe a selva elevada e úmida.

Por cerca de 500 km se percebe tal gradação verde.

A grande maioria dos brasileiros -- estrangeiros nem se fala -- desconhece que existem no Brasil duas "Amazônias": a Amazônia Legal, um território geopolítico, e a Amazônia bioma, palco da típica rain forest.

A primeira mede 5,2 milhões de km2 e inclui a segunda (4,2 milhões de km2), pois seus limites geográficos foram estabelecidos pelas divisas dos nove Estados que a compõem, incluindo parte de Mato Grosso, do Maranhão e do Tocantins.

Isso significa que a Amazônia Legal abarca grandes áreas de vegetação do Cerrado do Centro-Oeste.

Já a Amazônia bioma se forma, óbvio, apenas pela densa floresta original.

Pouca gente sabe dessa diferença, que confunde muitos analistas desavisados.

Voltando ao Nortão, as características do solo e do clima permitiram amparar com força total o modelo tecnológico, e tropicalizado, de grande escala no campo.

Ali a agronomia se excedeu, garantindo excepcionais níveis de produtividade nas lavouras e nas pastagens -- 100% dos agricultores tiram duas safras por ano.

As fazendas, totalmente mecanizadas, baseiam-se na gestão familiar. Filhos de sitiantes sulinos progrediram na vida.

Tudo reluz na cidade de Sinop. Inexiste velhice, quer de coisas ou de pessoas.

A sede da prefeitura, a igreja central, as lojas do comércio, as moradias, as largas e planejadas avenidas, os automóveis, por onde se enxerga se vê modernidade.

Nas ruas o povo parece ser mais alto, aloirado, de olhos claros, palavreado cantado, traços próprios de descendentes dos imigrantes europeus.

Assim também se mostra a reluzente Sorriso. Com 80 mil habitantes, a intitulada "capital do agronegócio" erigiu-se apenas nas últimas duas décadas, transformando a planura dos campos de Cerrado, que cobriam a maioria de seu território natural, em lavouras verdejantes.

O brilho dessas cidades impressiona quem está acostumado com o padrão mais antigo da sociedade urbana no País.

É impossível entender a economia de Mato Grosso sem considerar a crescente produção de grãos obtida nessa região.

Em consequência desse sucesso agrário, o Estado já responde atualmente por 25% da safra nacional de grãos, ultrapassando o Paraná (19%) e o Rio Grande do Sul (16%) no ranking da safra nacional.

O êxito agropecuário, entretanto, não resultou no desmatamento total do território nem gerou depredação ecológica.

Nada disso.

Ao contrário das zonas tradicionais de ocupação, que avançaram sobre as matas ciliares e mantiveram poucos remanescentes florestais, ali, nessa região de Mato Grosso, se preservaram 100% das áreas ribeirinhas, mantendo-se sempre as reservas florestais obrigatórias, dentro das propriedades rurais, na razão de 35% onde era Cerrado e 80% na floresta alta.

Só vendo para crer.

Viajando pela rodovia, ou observando pelas janelas do avião, veem-se as lavouras contrastando harmoniosamente com as reservas florestais, formando um mosaico de cores e espaços que mais parece um lindo quebra-cabeça da natureza.

Há dados objetivos. Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imae), nessa região oficialmente denominada "Centro-Norte", a agropecuária explora apenas 27% da área total. O restante continua preservado.

Eduardo Godoy, jovem economista que trocou as praias de Santos pela agronomia em Mato Grosso me relata, viajando de Sorriso para Sinop, que os norte-americanos se encantam com essa convivência lavoura-floresta.

Mas não entendem por que os agricultores brasileiros arcam sozinhos com a reserva ambiental.

Lá, nos EUA, áreas subtraídas da produção recebem fortes subsídios do governo.

Ninguém sabe explicar.


...

*Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br


OUTRAS COLUNAS
André Pozetti
Antonio Copriva
Antonio de Souza
Archimedes Lima Neto
Cecília Capparelli
César Miranda
Chaparral
Coluna do Arquimedes
Coluna do Bebeto
EDITORIAL DO ESTADÃO
Edson Miranda*
Eduardo Mahon
Fausto Matto Grosso
Gabriel Novis Neves
Gilda Balbino
Haroldo Assunção
Ivy Menon
João Vieira
Kamarada Mederovsk
Kamil Hussein Fares
Kleber Lima
Léo Medeiros
Leonardo Boff
Luciano Jóia
Lúcio Flávio Pinto
Luzinete Mª Figueiredo da Silva
Marcelo Alonso Lemes
Maria Amélia Chaves*
Marli Gonçalves
Montezuma Cruz
Paulo Corrêa de Oliveira
Pedro Novis Neves
Pedro Paulo Lomba
Pedro Pedrossian
Portugal & Arredores
Pra Seu Governo
Roberto Boaventura da Silva Sá
Rodrigo Monteiro
Ronaldo de Castro
Rozeno Costa
Sebastião Carlos Gomes de Carvalho
Serafim Praia Grande
Sérgio Luiz Fernandes
Sérgio Rubens da Silva
Sérgio Rubens da Silva
Talvani Guedes da Fonseca
Trovas apostólicas
Valéria Del Cueto
Wagner Malheiros
Xico Graziano

  

Compartilhe: twitter delicious Windows Live MySpace facebook Google digg

  Textos anteriores
26/12/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
21/12/2020 - ARQUIMEDES (Coluna do Arquimedes)
20/12/2020 - IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR (Fausto Matto Grosso)
19/12/2020 - 2021, O ANO QUE TANTO DESEJAMOS (Marli Gonçalves)
28/11/2020 - OS MEDOS DE DEZEMBRO (Marli Gonçalves)
26/11/2020 - O voto e o veto (Valéria Del Cueto)
23/11/2020 - Exemplo aos vizinhos (Coluna do Arquimedes)
22/11/2020 - REVENDO O FUTURO (Fausto Matto Grosso)
21/11/2020 - A INCRÍVEL MARCHA DA INSENSATEZ (Marli Gonçalves)
15/11/2020 - A hora da onça (Coluna do Arquimedes)
14/11/2020 - O PAÍS PRECISA DE VOCÊ. E É AGORA (Marli Gonçalves)
11/11/2020 - Ocaso e o caso (Valéria Del Cueto)
09/11/2020 - Onde anda a decência? (Coluna do Arquimedes)
07/11/2020 - Se os carros falassem (Marli Gonçalves)
05/11/2020 - CÂMARAS MUNICIPAIS REPUBLICANAS (Fausto Matto Grosso)
02/11/2020 - Emburrecendo a juventude! (Coluna do Arquimedes)
31/10/2020 - MARLI (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - As nossas reais alucinações (Marli Gonçalves)
31/10/2020 - PREFEITOS: GERENTES OU LÍDERES? (Fausto Matto Grosso)
26/10/2020 - Vote Merecimento! (Coluna do Arquimedes)

Listar todos os textos
 
Editor: Marcos Antonio Moreira
Diretora Executiva: Kelen Marques