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TEMA LIVRE : Fausto Matto Grosso
INCÊNDIOS FLORESTAIS, PANDEMIA E CRISE POLÍTICA
10/05/2020
A Amazônia, o Cerrado e o Pantanal já começam novamente a arder em chamas. Os incêndios de 2019, além das perdas econômicas e ambientais, queimaram irremediavelmente a imagem internacional do País.
O que foi feito de lá para cá para diminuir nossa vulnerabilidade?
Uma das últimas notícias a respeito foi a intervenção do Presidente querendo punir os servidores que queimaram as máquinas e equipamento dos garimpeiros e desmatadores ilegais.
Corremos o sério risco de assistirmos, daqui para frente, a superposição da crise política com o coronavirus e os incêndios florestais.
Os temas sociais, ambientais e sanitários parecem mesmo estar ligados.
A pandemia do coronavirus, pela diminuição da atividade humana, gerou uma série de efeitos colaterais positivos no meio ambiente.
Ao diminuir o tráfego de automóveis e as atividades industriais, diminuiu a poluição ao redor do mundo, como mostram imagens de satélites.
Em Veneza, os canais voltaram a ter águas cristalinas e peixes.
Na Índia, um dos países mais poluídos do mundo, o Himalaia passou a ser visto de cidades a mais de 200 km de distância, recuperando situação de três décadas atrás.
Na China, segundo a NASA, imagens de satélites, mostraram um declínio expressivo nos níveis de poluição, principalmente na região de Wuhan, onde se impôs o mais drástico isolamento social.
Essas realidades, em pequena escala, mostram cabalmente que, controlando a ação do homem, pode-se conseguir fazer uma gestão de risco mais adequada das emissões de gases das mudanças climáticas.
O futuro do planeta, em grande medida, depende das opções que fizermos em termos de combate a desigualdades, de concepção de desenvolvimento e de estilo de vida.
Não se trata de voltarmos às cavernas, mas de aproveitar a crise para preparar um “novo normal” mais virtuoso em termos civilizatórios.
Há muito que se sabe que os momentos de crise são oportunidades de mudanças.
Discute-se agora se a profundidade das nossas crises atuais será capaz de gerar grandes mudanças de paradigmas.
Há os que crêm que após a atual pandemia passar, e tudo voltar ao “normal”, o normal já será outro.
Outros acreditam que as mudanças serão apenas temporárias e cosméticas, insuficientes para romper esse paradigma baseado em desigualdades sociais, consumo desenfreado e individualismo exacerbado, que são as causas principais de degradação da sociedade e da natureza.
Tudo depende do que fizermos ou deixarmos de fazer.
Em um mundo globalizado tais questões já se tornaram universais.
A pandemia do coronavirus veio na direção do aprofundamento da compreensão de que o enfrentamento de problemas sanitários também exige articulação mundial, inclusive com o fortalecimento de instituições multilaterais como a OMS.
Os diversos países do mundo, em diferentes graus de desenvolvimento, deverão sair da atual crise com mudanças sociais, ambientais e econômicas.
O direito a uma Renda Mínima Universal, para o cidadão, saiu reforçado.
A experiência da quarentena ajudou a recolocar na ordem do dia a questão da redução da jornada e a incorporação de novas modalidades de trabalho como o home office.
A segurança alimentar e de insumos para a saúde foram reforçados com questões estratégicas.
O mundo está intimado a se repensar. Mas em tudo, se impõe uma visão global. Não existe salvação fora do mundo, seja na questão ambiental, social ou sanitária.
O Brasil está em um mau momento. Nossa crise política nos desmoraliza mundialmente.
Na pandemia temos sido expostos a vexames internacionais, da mesma forma como sucedeu no ano passado com a questão das queimadas.
O país não suporta três crises ao mesmo tempo.
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*Engenheiro e professor aposentado da UFMS
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