TEMA LIVRE : Coluna do Bebeto

Wilson trai Antero
26/08/2006

A política é uma atividade essencialmente humana e nela acabam refletidas as virtudes e fraquezas da espécie. Na política se entremeiam os mais belos gestos e as atitudes mais sórdidas.
De belos gestos cito o memorável encontro entre Tristão de Athayde e Gustavo Corção, inimigos figadais nas páginas da imprensa carioca. Um filho de Athayde sofreu um acidente e estava entre a vida e a morte. Ele prometeu o sacrifício de visitar a casa do inimigo caso o filho se salvasse. Foi. Corção estava à porta, recebeu-o, sentaram-se e prosearam. Permaneceram inimigos. Um de esquerda, outro de direita. Ambos entendiam que a vida de um filho valia mais que qualquer querela.

De gestos sórdidos cito a traição de Wilson Santos a Antero Paes de Barros nas eleições deste ano em Mato Grosso. Hoje ele não dedica meio por cento da energia que o correligionário empenhou na sua eleição para prefeito de Cuiabá em 2004. Curiosamente, o gesto sórdido de Wilson em relação a Antero beneficia quem lhe apunhalou na eleição passada. Explico: Wilson tinha o compromisso de Blairo Maggi de apoio num eventual segundo turno, caso o candidato do PPS ficasse fora da disputa.

A primeira pesquisa do segundo turno colocou o petista Alexandre César disparado na frente de Wilson. O tucano foi ao Palácio cobrar o apoio prometido por Maggi. Este lhe mostrou a pesquisa para justificar a roída de corda e o surpreendente apoio ao petista.

Naquele dia Wilson jogou a toalha e deu a eleição por perdida. Imagino a dor em seu coração, pois durante muito tempo, ele e o seu irmão Wilton foram puxa-sacos e lobistas do grupo empresarial pertencente aos Maggi.

Antero pegou a toalha tucana no chão, assumiu a campanha, reuniu uns “guerrilheiros talebans”, deu um novo tom ao discurso, virou o jogo e conseguiu o que então parecia impossível: a vitória do tucano sobre o petista. Depois Wilson ficou atribuindo a vitória a deus e ao espírito santo.

Wilson trai Antero porque sonha em migrar para o PMDB junto com Maggi (se ele ganhar) depois da eleição. Avaliam que o PMDB será o grande saco de gatos para dar sustentação a um eventual segundo mandato de Lula. Wilson sonha em suceder Maggi em 2010. Óbvio que nada disso foi combinado com o eleitor.

Brizola disse que a política adora a traição, mas abomina os traidores. Wilson que escolha como quer ser tratado pela história.

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*José Roberto Amador, 42, jornalista e republicano

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