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TEMA LIVRE : Serafim Praia Grande

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Vivendo perigosamente
28/10/2006



Faço um convite ao eventual e desavisado e-leitor: vamos experimentar uma aventura urbana de alta periculosidade?

Confesso que não sou adepto daquelas caminhadas pelo Parque Mão Bonifácia ou pelos seus assemelhados em outros pontos da cidade. Além desse tipo de prática ter-se transformado em desfile de modas por obra de algumas madames, a caminhada urbana é uma forma de se conhecer a cidade e apreciar de perto raros detalhes da arquitetura em suas inúmeras variações.

Trata-se de uma iniciativa que une o saudável ao cultural!

Falou em cultural já deve ter gente pensando em como dar um jeito de ganhar uma grana fácil com isso... É soda!

Caminhando pelas ruas da cidade você pode perceber detalhes da cultura de cada segmento da sociedade, notar as influências importadas de outras localidades imersas no que se transformou em genuinamente local e ir se deliciando com fisionomias, sotaques, expressões e manifestações ricas e variadas do ser humano.

Porque, a despeito do que temos que perceber no dia-a-dia, o que realmente deveria importar em todos os setores, em cada obra, cada estatuto, em todas as manifestações que emanam dos organismos que interagem dentro da sociedade, é o ser humano.

Concordar é fácil. Difícil é aceitar os sofismas embutidos nos raciocínios dos que podem interferir nos centros de decisões.

A gente sabe, mas não faz alarde, que a lei é igual pra todos, só que existem uns que são mais iguais do que outros. É verdade, não adianta espernear, uma grande maioria acha que pobre existe porque é vagabundo, que oportunidades são iguais para todos e não sobe na vida quem não quer e um monte de baboseiras montadas propositalmente para a cristalização da ideologia vigente e a manutenção do status quo.

Quem tá por cima da carne-seca quer continuar ali mesmo, e que se dane se há fome, doença, desabrigo, desemprego, crianças largadas pelas ruas como ratos. Enquanto as barrigas estiverem cheias, as posses aumentarem e a aparência de uma cultura de consumo conseguir enganar os vizinhos, tá tudo beleza, oráite até demais.

Se enganam e gostam. Fazer o quê?

Sim, mas onde estava o convite para a caminhada urbana que escorregou na calçada desalinhada das mazelas sociais? Cuidado com o buraco que já vou tentar explicar ou confundir ainda mais.

Existem cidades históricas em que o passeio turístico a pé é incentivado pelos órgãos competentes, inclusive com a distribuição de folhetos e folders sugerindo trajetos e ilustrando os pontos mais notáveis de cada percurso. É uma forma de turismo de baixo custo e grande impacto.

Agora, se você for se aventurar por aí, pode esperar pelo menos os grandes impactos. Calçadas esburacadas, desniveladas, tomadas por entulho, caçambas, carros estacionados, lixo e sujeira de todo tipo. Não precisa ir longe, basta dar uma circulada pelo centro da cidade, no entorno da avenida Mato Grosso. Quem conseguir circular por cerca de meia hora é um sobrevivente. Idosos caminhando ao amanhecer, pra tomar a fresca matutina típica do local? É uma tosse e um tombo. Nem pensar.

Fica, então, o convite-desafio: se você gosta de viver perigosamente, faça caminhadas pela cidade. E boa sorte, porque vai precisar muito!

...

*Serafim Praia Grande é ¨sócio-atreta¨ do Saite Bão


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