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Críticas Construtivas Se todo governante quer, por quê não?!!!

comTEXTO : 31 de Março, 1964

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31 de Março, 1964
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O dia do golpe
29/10/2005- Talvani Guedes da Fonseca



CAPÍTULO XL

Sofrera duas derrotas naquele 31 de março, o golpe e Desdêmona, e se fosse a morte do gaúcho, a melhor coisa que aconteceria seria cantar, e a luz voltou e nem perceberam, continuavam cantando, a lâmpada da sala fora desligada pelo dirigente e nem notaram que continuaram no escuro.

¨Gente! Foi ótimo cantar¨, exclamou emocionada Sarita, e sem rodeios, rápida e controlando-se num grande esforço.”Antes de terminar a noite, ainda quero cantar A Internacional”,disse, e até iniciou-a:

“De pé! Ó vítimas da fome”.
De pé! Famélicos da terra
A indolente razão ruge e consome
A crosta bruta que a soterra!...¨

¨Mas¨, parou, olhou-os e disse, ¨vamos deixar de conversa mole, vamos trabalhar. Se ainda não fomos presos, seremos agora, todo o prédio nos ouviu cantar¨, depois caiu na gargalhada, só parou de rir porque o dirigente a chamou para ver da janela o que se passava lá fora, e não era nada.

“Não sei porque interrompemos nosso hino, Pierre Degeyter e Eugene Pottier merecem nossa companhia nesse momento histórico”, disse, e continuou a cantarolar...

“Bem unidos façamos
Nesta luta final
Numa terra sem amor
A Internacional”.

Dirigindo-se ao nordestino, “a título de esclarecimento”, ela explicou que Pierre Degeyter e Eugene Pottier eram autores da letra da Internacional.
“Obrigado, eu não sabia. Nem sei a letra!”

Com incrível rapidez, nem meia hora depois dos gritos chegara uma Kombi da agência funerária com um caixão para iniciar o velório no salão do bloco C.

¨Vai comparecer ao funeral?¨, perguntou Sarita, e ao voltar-se captou a expressão do olhar embasbacado fixos nos seus seios, e, palpitando-os com um balançar de ombro, ela disse:

¨Vai, faça um carinho neles. Vai, passe a mão. Gosta do meu perfume?
Passei umas gotas atrás dos joelhos, não sabia que era só para você¨.

Sua inexperiência para lidar com mulheres voltava à tona:

¨O aroma é bom, mas não conheço. É seiva de alfazema?¨

¨Seiva de quê, menino?¨

¨De nada, não entendo de perfumes, mas você está se aproveitando de mim, isso eu sei¨, e a resposta dela foi outra vez balançar levemente os seios, que ele olhava-os, porém não ousava tocá-los, e era só o começo, porque Sarita flertava só com ele, não era com os outros dois e por ser tanta sua carência de mulher, mais extasiado do que esperava estar, sem poder acreditar no que ouvia, agora voltava sua atenção toda para ela.

Não imaginara uma mulher cortejando-o, entusiasmara-se com o interesse dela, mas procurou não revelar a satisfação porque não tinha conhecimento, não fazia a menor idéia do que iria acontecer, no que aquele assunto ia se tornar nem qual seria a disposição dela.

Dera a maior importância ao gesto dela ao pegar na sua perna, passar a mão na sua coxa, deixou-a escorregar até a genitália.

Naquele dia tão confuso, ao tentar obter qualquer reação dele, tornara-se Sarita uma preocupação a mais, ao perguntar de modo interessante, tentadora e premeditadamente, se vira algo de que gostara, deixando-o confuso, intimidado, ainda mais intrigado, sem saber o que viria, e, toda relaxada, Sarita ria baixinho.

Depois, feita uma doida, e de forma ousada, instigante, foi mais adiante:

¨Achou irresistíveis meus lindos e consistentes seios? Excitam você?¨

Tentando adivinhar o que estava acontecendo, meio confuso gostara da expressão dos olhos dela, daquela atitude que ele achava não ser normal numa mulher; apreciou mais a tentação ao ver que Sarita ia adiante, enquanto o dirigente ouvia tudo. Assim mesmo ela continuava:

¨Vejo que está interessadíssimo!´

Diante do silêncio, comentou:

¨Como você é ingênuo!¨, e acrescentou, com sorriso enigmático, ¨não uso soutien, faço o contrário das outras mulheres, que só usam para realçar os seios, o que é antinatural¨.

O dirigente ria tanto da surpresa do nordestino que saiu cambaleando, a caminho do banheiro ou um dos quartos.

Envaidecido por ser alvo de sutil e inesperada sedução, desconcertado, porém pela autenticidade, o nordestino passava a admirá-la e querê-la ainda mais.

Diante de tanta franqueza, da atração que era muito forte, paralisado, ganhavam vida secretas fantasias eróticas da adolescência, de fazer um dia, sexo com uma mulher mais velha, ¨desde que branca como parede pintada nova, mas com sangue¨, como diziam os mestiços meninos pobres da fazenda.

Embora exultante, confundia-se, não sabia o que dizer.

Disposto a se aventurar, ouviu Sarita quase em sussurro, olhando-o de um jeito diferente, libidinoso, a dizer:

¨Você continua me comendo com os olhos, menino¨, e pôs uma mão na coxa dele, ¨está gostando?¨, perguntou e comentou a seguir que ele precisava aprender a ver nas mulheres alguma coisa mais além de sexo:

¨Embora sexo seja bom, e como é bom!¨, concluiu, abriu os braços e espreguiçou-se:

¨Deixa desse olhar culpado, menino! Pára de pensar! Sinta!¨

Talvez esse simples gesto fosse um detalhe sem importância na relação entre o adolescente e a mulher mais velha, contudo ele se torturava por não saber o que fazer ou responder, numa situação constrangedora em que o súbito desejo indicava que valia à pena arriscar.

Então, por que estava com vergonha diante dela, a verdadeira heroína viva, que podia se comparar às heroínas românticas, guerreiras de Jorge Amado, Gorky, um ser humano, apenas uma bela, vigorosa, forte e desejável mulher?

O importante era ter a consciência de que de repente excitara-se como nunca, de que não se tratava mais nem podia esconder um sacrifício solitário e enquanto seu autocontrole se desmoronava, se projetou na situação de que ela não só estava ao seu alcance, como que a única saída seria enfrentar os seus fantasmas; seria tomar a atitude radical, enfrentá-la, agarrá-la e comê-la toda, de uma vez porque aquelas coisas que estavam acontecendo pendiam da tarde, das recordações de tudo o que sonhara fazer com Desdêmona, ali mesmo, no apartamento. Nunca, no entanto, imaginara-se ao lado de mulher como Sarita.

Respondia à cada estímulo se encaixando mais nela, que era um vulcão, e ele gostaria de ter falado que sentia isso, ainda não o fizera por temor de que a qualquer momento Sarita dissesse algo como ¨não quero ouvir mais uma palavra dessa besteira¨, e assim preferiu só sentir seu calor, imaginando tê-la tranqüila e como se soubesse o quanto ele estava se sentindo sozinho, ela só observava, atentamente, suas reações.

Deixara claro de algum modo que gostava de ficar junto dele, e como era bom perceber que com ela se passava sensação idêntica! Em matéria de sexo Sarita estava muitos passos à frente e claramente ele via nela o quanto, ao contrário de homem, a mulher nega menos, sabe ocultar seus motivos quando fica difícil esconder o que quer, seja num caso amoroso platônico ou quando quer ser amada, revelando seus segredos, agarrada ao desejo de ser penetrada, e ela percebia que o despertara para uma nova realidade, na qual ele tinha que tomar uma atitude.

Entretanto, estava consciente das dificuldades que iria enfrentar, se prosseguisse. O importante era saber que a sua reação fora percebida, mas seria um vexame se ficasse de pé, porque chamaria demais a atenção o enorme volume da sua ereção.

Percebendo-o, talvez para distraí-lo, ela disse:

¨O importante é o que você pensa de você mesmo, o que você deseja¨, e, provocou-o, simples e sem afetação, passou a língua sobre os lábios úmidos:

¨Eu sei que você quer amar meu corpo, cada centímetro, centímetro por centímetro, e que também quer chorar no meu ombro¨.

Chegara a seu limite, enfim, e não agüentava mais tanto tesão.

...

Leia amanhã o Capítulo XLI

Jornalista, escritor e poeta norte-rio-grandense

  

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